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O Dilema do Legislativo

Estamos em ano eleitoral, e é muito importante não deixar somente para o final do ano a análise de possíveis bons candidatos para ocupar uma cadeira no legislativo. Os motivos são vários, mas podemos nos apegar ao fato de que você pode incentivar boas pessoas a participarem do pleito, você pode divulgar o nome dos bons candidatos e você também terá tempo para escolher de maneira mais criteriosa para quem vai o seu voto.

O dilema que esse texto apresenta é o de que um vereador precisa estar atento a tudo, mas provavelmente será eleito por somente uma pauta. Então você precisa encontrar um candidato que seja um especialista em uma área, mas que tenha capacidade de navegar pelos mais diversos campos do conhecimento, ao mesmo tempo em que mantém uma postura coerente e humilde para recorrer a uma equipe de especialistas quando o assunto fugir àquilo que ele se considera preparado para responder ou deliberar.

Portanto, precisamos de uma pessoa com vasto conhecimento, mas que tenha investido parte do seu capital intelectual em certos campos do conhecimento e, ao mesmo tempo, seja alguém experimentado na gestão de recursos humanos. Essas eleições terão pontos convergentes e divergentes relativos aos pleitos anteriores, porém, dificilmente teremos tempo para alertar a todos acerca do problema do vereador de pauta única. Entretanto, podemos alcançar mais pessoas se fizermos nossa parte desde já. Uma câmara que não se entrega aos bordões e nem engana com jargões. Muitas vezes o dilema some quando procuramos atentamente as respostas.

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Um contraste revelador

O domingo, 28 de julho de 2024, foi um dia extremamente simbólico para quem presta alguma atenção aos fatos políticos e se preocupa com o futuro de Curitiba.

Do lado democrático, republicano, focado no bem-estar geral, na redução das desigualdades, na justiça, solidariedade e fraternidade, os Deputados Luciano Ducci e Goura Nataraj consumaram uma aliança para concorrer à Prefeitura Municipal, em outubro próximo, que abrange amplos setores de todas as camadas sociais.

São dois políticos testados nas urnas, com indiscutível penetração popular, detentores de histórias de vida ilibadas e dedicadas à causa pública. Com erros e acertos, mas com transparência, colocaram-se e se colocam de peito aberto ao escrutínio da população. Ostentam com orgulho o apoio de partidos comprometidos com as causas populares, e também de trabalhadores, de intelectuais, e da classe média verdadeiramente interessada em um futuro melhor para todos.

Goura e o PDT trazem para a aliança um conjunto completo de propostas para Curitiba, formuladas após um amplo processo de consultas e debates com a população, e estampadas no documento “Curitiba Que Queremos” (consulte-o em www.curitibaquequeremos.com.br).

O PSB, de Ducci, já possui um conjunto de diretrizes para os programas dos governos municipais, chamado Cidades Criativas.

E agora, fechada a coligação, os partidos que a integram (PSB, PDT, PT, PCdoB e PV) darão continuidade aos debates com a população. Vários grupos de trabalho já foram criados e estão iniciando seus trabalhos. Se você quiser participar, ou souber de alguém que queira, basta chegar junto. Democracia é isso mesmo!

Já na outra banda, a da oligarquia, cuja prioridade é a manutenção dos privilégios das minorias, ainda que à custa das liberdades e dos direitos dos demais, o que se viu naquele domingo foi uma viagem de beija-mão ao corrupto líder máximo da extrema-direita brasileira, arauto do golpismo, do desprezo pela democracia e pela verdade, e do negacionismo sanitário.

Uma viagem, aliás, diga-se de passagem, extremamente constrangedora, em vista da clamorosa falta de protagonismo do candidato tirado do bolso do colete oligárquico. Constrangedora sim, mas não incoerente. Porque tem sido assim, ininterruptamente, desde o início.

Trata-se, tal candidato, de uma figura obscura, desconhecida, sem qualquer expressão ou experiência política que, exatamente por isso, não possui absolutamente nenhuma luz própria. E que, também exatamente por isso, é perfeito aos interesses dos poderosos.

Escolhido arbitrariamente, de cima para baixo, pelo governador do Estado e pelo prefeito da Capital, porta-vozes das políticas de exclusão social e benefícios aos “de cima”, vive e permanece à sombra deles. Conhece o seu lugar e, o que é pior, respeita-o. Faz o que lhe mandam, discretamente, sem discutir.

Goura Nataraj e Luciano Ducci

Programa de Governo? Propostas para a cidade? Alguém já viu o rapaz dar alguma declaração acerca do que pretende para Curitiba? Alguma ideia, algum projeto, um suspiro ao menos? De minha parte, desconheço. Sua única aparição sem a escolta dos padrinhos foi em entrevista ao jornal Plural, e foi deplorável, sob todos os aspectos. Não foi possível extrair absolutamente nada dali. Não disse coisa com coisa, não conseguiu juntar um único lé com um único cré.

Aliás, é evidente que ele acha que nem precisa. Basta continuar administrando para os mesmos e fazer o que os lobbies mandarem. Já está até acostumado ao papel.

No domingo, em Porto Alegre, no já citado beija-mão, foi uma verdadeira vergonha alheia. O ratinho, velho comparsa do bolsonarismo, todo serelepe, sorridente, desenvolto, à frente do cortejo, ia ditando o ritmo e a ação. O pobre candidato atrás, cabisbaixo, apagado, sem saber direito o que fazia ali. Quem quiser assistir à cena patética pode fazê-lo simplesmente acessando o vídeo que o próprio Plural divulgou, em https://www.plural.jor.br/colunas/caixa-zero/eduardo-pimentel-vai-a-porto-alegre-pedir-a-bencao-de-jair-bolsonaro/.

Curitiba é uma metrópole complexa, com enormes desafios a enfrentar. Você acha que é aconselhável deixá-la na mão de alguém fraco, inexpressivo, inexperiente, aliado da extrema-direita corrupta e golpista, e que, ainda por cima, se sujeita a um papel como este?

Da minha parte, tenho absoluta certeza de que não. Já escolhi o meu lado. Vou com a integridade, a experiência, as propostas concretas em benefício da população e, principalmente, vou com a democracia. Vou de Ducci + Goura.

Entre em contato comigo, aqui mesmo pelo SITE, ou nas minhas redes sociais (Instagram ou Facebook). Vamos conversar. Juntos podemos fazer muito por Curitiba e seu povo.

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Colcha de retalhos

Não é novidade nem segredo para ninguém que o problema da violência e da criminalidade é um dos que mais preocupa a todos os brasileiros, há décadas, nas quais seus índices teimam em se manter terrivelmente inalterados diante de sucessivas políticas governamentais de segurança pública.

Isso acontece porque estas últimas, ao invés de buscar as causas do problema, insistem em focar nos seus efeitos. Uma após a outra, elas aplicam as mesmas medidas, com pequenas variações, esperando obter resultados diferentes. E, por óbvio, fracassam.

Uma das mais graves, dentre essas causas, é o nosso modelo policial, que aliás é único no mundo. Anacrônico, distópico, ineficaz ao ponto de ser contraproducente, ele é um dos principais gargalos a impedir o avanço do país nessa área.

A polícia brasileira é um amontoado desorganizado de corporações e sub-corporações mal arquitetadas, submetidas a legislações burocráticas e autoritárias, que misturam e confundem os papeis que lhes são legalmente reservados, não se entendem entre si – aliás frequentemente se odeiam e/ou desprezam – e, não menos importante, estão irremediavelmente viciadas em uma cultura operacional diametralmente oposta à que seria minimamente adequada ao cumprimento de sua função.

Pois a sociedade brasileira, ao invés de aproveitar o processo constituinte da década de 1980 para se debruçar sobre essa barafunda generalizada, e construir um outro modelo, racional, moderno, objetivo e eficiente, espelhando-se em tantos assim que há em vários países, preferiu não apenas consagrá-la como ainda agravá-la, tratando de criar mais uma corporação para se somar ao grupo caótico já existente e, assim, aumentar ainda mais a confusão.

Ali nasceram as Guardas Municipais. Inicialmente previstas para serem tão somente guardiãs desarmadas do patrimônio público do município, era só uma questão de tempo para serem levadas, seja pelo clamor popular, seja pelos desvios estruturais embutidos tanto na sua constituição quanto na cultura de seus integrantes, a preencher, com os mesmos defeitos das suas coirmãs, os vácuos que nossa caricata segurança pública não se cansa de provocar.

Então, e previsivelmente, temos hoje mais uma corporação exercendo funções policiais no mesmo território das demais, sem que se clarifique qual a atribuição de uma e das outras. Todas fazem de tudo, com enorme desperdício de todas as espécies de recursos e meios, e os poucos resultados de todos conhecidos.

Nos últimos meses temos sido bombardeados, também previsivelmente, pela reivindicação das Guardas Municipais, que pedem a aprovação do Projeto de Emenda Constitucional nº 57/2023, que formalmente lhes altera o nome para Polícia Municipal.
E assim segue o baile. Altera-se um ponto aqui para atender interesses corporativos de uns, improvisa-se um enxerto ali para não desagradar a outros, e, como diria o Professor Raimundo, “o salário, ó!” O que interessa, fica no mesmo.

Segurança pública: uma colcha de retalhos

Pouco importa o nome que tenha a atual Guarda Municipal. O que é necessário é mexer profundamente na estrutura toda, ou seja, jogar no lixo a colcha de retalhos remendados atual, que está rota, e não aquece o corpo enregelado.

Polícia única, civil (a função de polícia é induzir a pacificação, a de militar é o contrário, fazer a guerra), de carreira única, de ciclo completo, com definição de competência por tipos de delito e/ou por área territorial de atuação. Polícia cidadã, comunitária, proativa nas relações com a população e na detecção e desativação de possíveis conflitos, com poder decisório ao policial na ponta para tanto.

As polícias constituídas e organizadas dentro desse modelo, quer sejam municipais, estaduais ou federal, cada uma atuando dentro de sua competência, cumprirão com muito mais eficiência seu papel junto à sociedade e contribuirão de maneira muito significativa, concomitantemente a outras medidas, estas focadas nas causas da criminalidade, para que o Brasil possa almejar ser um país civilizado no que toca à segurança pública.

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Tragédia anunciada

Embora todos os estudos sérios, as estatísticas e, mesmo, o mais elementar bom senso, mostrem o contrário, sempre há aqueles que, por ignorância ou má-fé, insistem na tese de que um maior número de armas de fogo nas mãos dos cidadãos comuns é benéfico para a segurança pessoal de todos.

Os argumentos que usam são todos de uma fragilidade tão evidente que não podem convencer ninguém minimamente consciente e bem-intencionado.

Jair Bolsonaro pertence a esse grupo. E, nessa questão, não é ignorante. Ao contrário, defende interesses inconfessáveis. Por isso, com sua vitória na eleição presidencial de 2018, o Brasil passou a ser um verdadeiro paraíso do armamentismo desenfreado.

Não poderia acabar bem. Todos aqueles que, como eu, acreditam nas evidências científicas, advertiram para isso, desde o início. Afinal, é uma simples relação de causa e efeito.

O problema dessa falácia é que é a sociedade como um todo que paga o preço. E ele é extraordinariamente alto.

Como não poderia deixar de ser, a libertinagem absoluta que passou a imperar na aquisição de armas de todos os tipos e poder de fogo, permitiu o surgimento de várias formas de fraude.

A mais comum delas foi a falsificação, por parte de indivíduos inescrupulosos, imbuídos dos objetivos mais escusos possíveis, da condição de Caçador, Atirador Esportivo e Colecionador de Armas (os famigerados CACs), para os quais as exigências passaram a ser extremamente frouxas.

Caçador, Atirador Esportivo e Colecionador de Armas - CAC

Pois bem. Na semana passada a Polícia Federal brasileira desbaratou uma quadrilha de falsos CACs, impostores cuja atividade principal era abastecer de armamento adquirido legalmente, as mais perigosas facções do crime organizado (veja detalhes aqui).

O Brasil ainda levará anos sofrendo as consequências dessa opção equivocada. A promiscuidade gerada pela permissividade exagerada ainda se projetará no tempo. O número de crimes cometidos com armas que entraram no mercado “legalmente”, e caíram (ou foram entregues) nas mãos de criminosos, permanecerá alto. E situações idênticas ou semelhantes às da semana passada ainda se repetirão muitas vezes.

O caminho do fascismo conduz sempre, e inevitavelmente, à tragédia.

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O mal é mau, mesmo quando disfarçado de bem

Fiquei sabendo, dias atrás, que no Tennessee, Estados Unidos, foi aprovada uma lei permitindo que professores e funcionários de escolas do ensino médio vão ao trabalho armados.

A justificativa usada foi a de que eles poderão se defender, e aos alunos, na eventualidade de ocorrer um daqueles ataques mortais, tão frequentes naquele país, em que um ou mais desajustados entram no ambiente escolar atirando em tudo o que se move.

Trata-se, a meu ver, de medida tipicamente demagógica. É a clássica, e infelizmente usual, mania de focar na consequência ao invés de encarar as causas.
Imaginemos que um ataque venha a ocorrer, no Tennessee. Em uma hipótese otimista haverá, sim, uma quantidade menor de vítimas, em virtude da capacidade de reação de alguém armado dentro da escola.

Mas definitivamente esta não é a solução.

A vida nos prova que a presença de arma de fogo em qualquer ambiente aumenta exponencialmente a possibilidade de vítima fatais na eventualidade de um conflito interpessoal. Brigas triviais de bar, ou de trânsito, ou de vizinhos, ou mesmo domésticas, assim como tantas outras, muito frequentemente terminam de forma mais trágica quando algum dos envolvidos dispõe de uma arma.

Quanto tempo vai levar até que um desentendimento provoque a morte de alguém? Ou que algum jovem se aposse de uma arma, por qualquer meio, e a use para atingir um desafeto? É muitíssimo provável que o número de vítimas fatais nestes casos supere o de vidas poupadas em ataques, no Estado.

Professores poderão portar armas em escolas americanas no Tennessee.

Por outra: como evitar que criminosos tornem professores e funcionários alvos preferenciais, para agredi-los e se apossarem das armas que carregam?

Para enfrentar real e eficazmente a causa dos massacres, assim como da altíssima taxa geral de mortalidade por armas de fogo, nos EUA, é preciso ir à sua raiz, acabando com a liberdade total de posse e porte delas por parte de todo e qualquer cidadão.

O problema é que isso exige coragem, determinação, e desafio ao poderoso lobby armamentista ali existente.

Até agora ninguém reuniu esses atributos.

É fundamental que nós, brasileiros conscientes, fiquemos alertas para esse tipo de situação, porque por aqui não faltam pessoas irresponsáveis apregoando que copiemos o modelo estadunidense neste particular. É preciso combatê-las de todas as formas, com toda a força, e em todos os lugares.

A única finalidade de uma arma de fogo é produzir sofrimento. Quanto menos delas, menos dele. É simples assim. 

E é isto o que deve nos mover.

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Caminho perigoso

Curitiba enfrenta muitos desafios, vários deles agravados pelas administrações elitistas e supérfluas que têm se sucedido, quase sem solução de continuidade, no Palácio 29 de Março, nas últimas décadas.

Um dos mais graves dentre eles é constituído pelo perigosíssimo caminho que está sendo percorrido pela nossa Guarda Municipal.

São necessárias medidas urgentes, de natureza cultural e estrutural, no sentido de revertê-lo.

Como todas as corporações armadas do Brasil, nossa Guarda afastou-se por completo da noção de ser, fundamentalmente, uma instituição formada pela sociedade com o fim de protegê-la de situações causadas por indivíduos ou grupos inconformados com o pacto social sem o qual seria impossível vivermos em grupo.

Há várias razões para isso. Quero deter-me em duas das principais. A primeira é o stress. Todo agente da lei exerce a profissão mais estressante que existe. Ele está exposto, inevitavelmente, a dois tipos de stress. Um é permanente, incessante, onipresente, porque, no trabalho, ele expõe sua própria vida todos os dias.

O outro decorre do fato de que o agente da lei possui o monopólio do uso legal da força, cujo exercício frequentemente o coloca em situações limite de enfrentamento.

Nestes momentos, o nível de stress tende a explodir; mas, mesmo assim, é preciso agir com frieza, cálculo e ponderação.

Convenhamos que isso é bastante difícil. E passará a simplesmente impossível se a pessoa, o ser humano, o trabalhador, que habita o corpo desse agente da lei, ainda acumular stress em sua vida pessoal.

Não é de espantar, portanto, que o índice de suicídios entre estes profissionais, seja muito superior ao da média geral.

Cabe ao Estado, que é o agente da sociedade que instituiu a corporação à qual ele pertence, zelar para que sua vida pessoal seja o menos estressante possível. Afinal, além de tudo, ele carrega uma arma de fogo, o que torna toda a situação ainda mais delicada.

Importante lembrar, neste passo, também, que, por sua própria natureza, a atividade policial é talvez a que recebe a maior cobrança por parte da sociedade e, portanto, do próprio Estado, quanto à sua atuação e desempenho.

Resulta ser uma questão de simples bom senso deduzir que só é possível cobrar deveres quando se provê os direitos.

Guarda Municipal de Curitiba

A responsabilidade do Município de Curitiba perante sua Guarda Municipal se materializaria através da valorização profissional e boas condições de trabalho. Remuneração e tratamento dignos, reconhecimento, equipamentos à altura e perspectiva de crescimento na carreira, são providências mínimas indispensáveis. Ao lado disso é fundamental uma assistência psicológica permanente e dotada de credibilidade indiscutível. Nada disso é feito.

O resultado está aí, à vista de todos. Uma corporação totalmente fora de controle, muito mais temida do que respeitada, pela população.

O segundo fator é cultural, e afeta todas as instituições brasileiras de natureza policial. O uso legal da força, que, como o próprio nome diz, está limitado e regulado pela lei, é confundido com a noção de estar acima dela.

A ordem social injusta, o sistema de dominação de classe e o racismo estrutural que imperam na vida brasileira, aliados à sensação de poder fornecida pelo uniforme, pela investidura e, principalmente, pela arma, fazem de nossos policiais obedientes serviçais das elites, no combate às populações pobres e vulneráveis, com especial vitimização dos homens negros periféricos das grandes cidades.

A reversão deste quadro, embora mais difícil e demorada, também está condicionada à melhora significativa das condições de vida e trabalho do homem policial.

Uma vez fornecidas a ele condições dignas, poderá ser dele exigida e cobrada uma atitude profissional condizente com os padrões civilizatórios que prevalecem em outras áreas da vida humana.

No ano passado, em um dos episódios do “Podcast “20 Minutos com Marcelo Jugend”, eu tive a oportunidade de entrevistar Rejane Soldani, presidente do Sindicato dos Guardas Municipais de Curitiba. Foi uma conversa bastante esclarecedora acerca de alguns dos pontos acima expostos. Assista a esta entrevista clicando AQUI.

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Polícia Militar

Afirma-se que a partir da promulgação da Constituição de 1988 passamos a respirar ares plenamente democráticos.

Ouso discordar. É bem verdade que no período subsequente, até pelo menos o golpe de 2016, o nosso regime foi o mais amplamente democrático da História.

Amplo, contudo, não é sinônimo de pleno. Nosso sistema político é manchado desde sempre por um pendor autoritário que impregna todos os estamentos brasileiros que usam farda.

Uma democracia, mesmo ampla, jamais será plena enquanto generais entenderem que podem interferir no processo político, como ainda ocorre no Brasil. Jamais tivemos força social para impor aos integrantes das Forças Armadas o respeito aos limites constitucionais de suas funções. Temos convivido, inclusive recentemente, com a perene e distorcida noção autoconferida por elas, de que podem tutelar a sociedade, tal qual um poder moderador inexistente na legislação.

Por outro lado, nenhuma democracia será plena enquanto, no seu seio houver profissionais que, em nome do Estado, se julgam acima da lei, e agem diariamente à sua margem, certos de total impunidade.

Pois é isso o que ocorre com a questão da Segurança Pública. Ela não foi democratizada em 1988. Ao contrário. Adotou integral e acriticamente o modelo autoritário da ditadura.

Graças a isso hoje não é novidade para ninguém que a Polícia Militar brasileira é a polícia mais letal do mundo, sem que as instituições esbocem a menor reação para alterar esse quadro. Aliás, agem na contramão disso: são cúmplices ativas na perpetuação dele.

Nossa polícia é a que mais mata, mas é também a que mais morre. Acredita piamente nas perversas e equivocadas ideias de que a luta pela segurança pública é uma guerra entre “mocinhos” e “bandidos”, e de que “justiça” é sinônimo de “vingança”.

Todo o modelo policial brasileiro é um monstrengo anacrônico, ineficaz e até contraproducente. Mas, nele, as ilegalidades cometidas pelas polícias militares se destacam com ampla vantagem em relação às demais.

Ano passado, no podcast “20 Minutos com Marcelo Jugend”, conversamos com Martel Alexandre del Colle, aspirante a oficial da PM do Paraná formado na Academia Policial Militar do Guatupê. Exercendo postos de comando de tropa, percebeu, na prática, muitos desvios que contradiziam a ideia que tinha sobre o trabalho policial.

Polícia Militar

Íntegro, sério e honesto, levou suas inquietações a seus superiores, sem resultado. Então, no intuito de contribuir para o aperfeiçoamento da instituição e o benefício da sociedade, passou a estudar o tema e publicar suas conclusões. Afinal, é essa sociedade que institui e arma a polícia. Então, ela tem o direito de conhecer os mecanismos do seu funcionamento, os quais lhe são sistematicamente sonegados.

Assim, Martel, passou a constituir um corpo estranho dentro do organismo sólida e nocivamente corporativo. Violou a criminosa lei do silêncio que acumplicia todos, oficiais e praças, num lobby poderosíssimo para preservar um estado de coisas que todos os demais setores sociais sabem ser lastimável.

Então, por meio da criação de todos os tipos de artifícios, a PM deu um jeito de excluí-lo. Aos 29 anos de idade, Martel Alexandre del Colle foi aposentado compulsoriamente.

Ora, o podcast “20 Minutos com Marcelo Jugend” não nasceu para esconder problemas. Ao contrário, veio para incomodar, para suscitar o debate. Mostrar o outro lado, aquele que os poderosos tentam esconder, porque justamente mexe com seu poder. E, enquanto esteve no ar, acho eu, cumpriu galhardamente esse objetivo.

Você quer conhecer as distorções que levam as Polícias Militares brasileiras a serem o que são, narradas por quem as viu e as viveu pelo lado de dentro? ASSISTA AQUI ao episódio com Martel Alexandre del Colle.

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Preconceito

O que é o preconceito?

A pergunta é simples, porém a resposta não poderia ser mais complexa, controversa e profunda.

Muito embora nem sempre saibamos definir o preconceito com alguma exatidão, ninguém discorda do fato de ele precisa ser combatido, porque é um grande mal que aflige todas as sociedades humanas.

Trata-se de um fenômeno que afeta toda e qualquer pessoa em diversos momentos da sua vida, seja como perpetrador ou vítima. E que, em todas e cada uma das infinitas vezes em que ocorre provoca sofrimento, injustiça, exclusão e, mais do que tudo, atraso no desenvolvimento humano, individual e também coletivo.

A grande e fascinante aventura do “homo sapiens” sobre esse nosso planeta gerou e gera, cotidianamente, desigualdades de todos os tipos e calibres. Acontece que cada pessoa tende a considerar a sua condição como aquela que mais se harmoniza com tudo o que a envolve. A partir daí a evolução para discriminar todos os que são diferentes dela, por considerá-los menos adequados ao ambiente e, portanto, inferiores, não é mais do que um pequenino passo.

Bem. Como todos os fenômenos tipicamente humanos, este também é objeto de estudo e análise por cientistas sociais de vários matizes, origens e tendências.

Preconceito

Uma das pesquisadoras mais respeitadas do Brasil, nesse tema, vive no Paraná, e foi uma das entrevistadas do podcast 20 Minutos com Marcelo Jugend, ano passado.

Tânia Maria Baibich, professora titular aposentada da UFPR, fez do preconceito o tema maior de sua vida científica. Pesquisou-o em todas as instâncias de sua formação, fez dele o objeto de sua tese de doutorado em Psicologia Social pela USP, criou uma disciplina específica a respeito, na UFPR, e lecionou sobre o tema por décadas.

Talvez Tânia não possa nos ajudar a responder com exatidão matemática a questão que abre este texto. Ela pode, porém, e com absoluta certeza, dissipar boa parte das névoas que a envolvem. E isso, acreditem, é de extrema importância no fortalecimento das armas com que podemos – e devemos – combater o preconceito nosso de cada dia. ASSISTA AQUI.

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Violência nas corporações

Dizem que a violência é um traço inerente ao ser humano. Ela é praticada na nossa espécie desde que, centenas de milhares de anos atrás, o “homo sapiens” percebeu que precisava disputar os recursos de sobrevivência com seus semelhantes.

Infelizmente essa característica deplorável resistiu ao passar dos milênios e à enorme evolução civilizatória que ocorreu desde então. Pior: à medida que, por um lado, seres irremediavelmente gregários que somos, avançávamos criando e consolidando formas de convivência social cada vez mais complexas, a violência, por outro, ia se adaptando a isso e tratando de se diversificar a fim de impregnar todas elas.

Nada disso impede, porém, que muitos de nós façam do combate a essa praga a causa da sua vida.

Se por um lado abundam na história seres humanos capazes das mais horrendas barbaridades, por outro ela está coalhada de exemplos edificantes de personagens cuja luta pela paz e convivência pacífica entre os homens nos inspira todos os dias.

Pois bem. A vida em sociedade se dá, obviamente, através de grupos organizados. Essa condição pressupõe, como requisito funcional necessário, o estabelecimento de níveis hierárquicos internos em cada um desses grupos. As relações interpessoais carecem, como não poderia deixar de ser, de convenções acatadas por todos, formando um ordenamento no qual cada um desempenhe uma função específica. Algumas mais elevadas, do ponto de vista decisório, do que outras.

Essa é a maneira pela qual se comportam até mesmo os animais, seres também gregários, em cujos rebanhos e manadas também se observam níveis de hierarquia.
Famílias, empresas, clubes, ONGs, e tantas outras formas de congregar pessoas em torno de interesses, afetos, ou objetivos de vida, nada mais são do que organizações.

Violência nas organizações.

Nelas, como em todas as outras atividades humanas, ocorrem casos de violência das mais variadas formas: física, emocional, intelectual, etc. Usualmente ela parte de quem está, ou julga estar, em posição de maior poder – qualquer tipo de poder – em relação à sua vítima.

Cientistas sociais têm se debruçado cada vez mais atentamente sobre essa espécie de abuso, por eles classificado sob o nome “Violência Organizacional”.

Pode-se dizer que, ao tentar compreender, debater e propor maneiras de amenizar ao máximo o problema, eles se integram à lista generosa de pessoas que batalham por um mundo em que homens e mulheres se tratem melhor uns aos outros e, com isso, sofram menos.

No podcast “20 Minutos com Marcelo Jugend”, ano passado, conversamos sobre esse tema com Francis Kanashiro Meneghetti, Doutor em Administração e Educação, professor da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, e um dos mais destacados pesquisadores dessa área, no Brasil. ASSISTA AQUI.

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Diversidade na educação

Há certos setores, na sociedade brasileira que ainda teimam em ignorar as diferentes realidades sob as quais vivem as pessoas, e afirmam que as oportunidades estão ao alcance de todos, por igual.

Segundo esse raciocínio, para atingir a plenitude da cidadania e viver uma vida digna e com direitos assegurados, não faz a menor diferença ter nascido branco e rico ou negro e favelado. O sucesso depende unicamente do esforço individual de cada um.
Costuma-se chamar a isso meritocracia. Claro que é uma falácia.

Afirmar o contrário significa dizer que cor da pele e status social provêm inteligência, já que o número de brancos nascidos ricos que vivem bem é infinitamente maior do que o de pretos e pardos nascidos pobres.

É incomparavelmente maior, inclusive, do que o de brancos nascidos pobres. A verdade, contudo, é bem outra. Pesquisas comprovam que mais de 95% dos nascidos pobres morrem pobres, não importando seu nível de inteligência, ao passo que mais de 95% dos nascidos ricos morrem ricos, não importando seu grau de estupidez.

Portanto, vir ao mundo nas camadas menos afortunadas da população impõe à pessoa desafios e obstáculos gigantescamente maiores. E é por isso que aquelas poucas delas que conseguem romper tais barreiras e evoluir para uma vida com pelo menos alguma dignidade, merecem muito mais aplauso e admiração.

São minoria tão diminuta que, na verdade, não passam de exceções a confirmar a regra.

Cavalcante (GO) - Quilombo Kalunga (2022).

Em um dos episódios do podcast “20 Minutos com Marcelo Jugend”, levado ao ar no ano passado, tive a oportunidade de entrevistar uma dessas heroínas, Edimara Gonçalves Soares, hoje professora no ensino médio público no Paraná. Bisneta de escravos, nasceu e viveu a infância em extrema pobreza, no quilombo Estância do Meio/Timbaúva, no interior do Rio Grande do Sul, local onde faltava rigorosamente tudo.

Ainda assim, conseguiu formar-se em Geografia, com licenciatura plena, pela Universidade Federal de Santa Maria/RS. Cursou, depois, Mestrado e o Doutorado em Educação, ambos pela Universidade Federal do Paraná.

Ela foi, aliás, nada menos do que a primeira quilombola do Brasil a obter o grau de Doutora.

Ouvindo-a, pudemos compreender um pouco melhor o que é o Brasil real, para quem não traz o privilégio desde o berço.  ASSITA AQUI.

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